Você já deve ter visto em sua academia alguém fazendo algum tipo de exercício que considerou que era errado, pois não é tipico de ser executado. Geralmente são variações de exercícios já tradicionais, mas como eram executados de forma extremamente diferentes você deixou passar, pois em sua mente era realmente uma execução errada. De fato, muitos deles são DESNECESSÁRIOS, mas alguns podem apresentar grande aplicação para alguns indivíduos (principalmente em níveis avançados na musculação) ou mesmo para trabalhos específicos os quais não são solicitados com “exercícios tradicionais”.
Então, que tal aprendermos um pouco mais sobre as reais aplicações e necessidades de uso de exercícios não usuais e entender o quão eles podem ou não ser vantajosos para alguém que busca o clássico na musculação?
Indice / Sumário
Exercícios incomuns na musculação
Você já parou para se perguntar por que é mais difícil executar uma elevação lateral deitado lateralmente em um banco com angulação de 45º do que executá-la em pé? Ou mesmo já parou para pensar por que é mais fácil executar uma elevação lateral com os cotovelos semiflexionados do que com os cotovelos totalmente estendidos? Simples! No primeiro caso temos uma ação isoladora do deltoide (principalmente na porção lateral) e não temos quaisquer ajuda da região da coluna e nem dos músculos do core no movimento. Ainda, o temos uma ação menor do serrátil e de outros músculos auxiliares os quais dificultarão o movimento. Esse tipo de movimento possibilita um trabalho muito intenso e sem a utilização de cargas elevadas. Ainda falando da elevação lateral em banco 45º, contamos com a vantagem de que esse não é um exercício com tendência a lesões (inclusive, é muito menos tendencioso do que sua própria versão original, em pé).
Existem outros mil exercícios que recrutam de maneira muito intensa o músculo, não requerem carga elevada e ainda estão em uma biomecânica aceitável, a qual não foge de padrões naturais do corpo. Outros bons exemplos são: o agachamento pela frente, a rosca spider, remada baixa com puxador corda nos cabos, serrote unilateral com pegada inversa, elevação lateral simultaneamente com cabos, elevação frontal com peito apoiado em banco 45, stiff no smith, entre outros.
Por outro lado, se considerarmos que existam exercícios não usuais que fogem de uma biomecânica natural do corpo, devemos ter mais cuidado, pois existem aqueles exercícios que tem uma boa aplicação, desde que sejam executados com uma perfeição e com “orientações específicas”, e existem aqueles exercícios que não passam de exercícios para “inglês ver”, ou seja, exercícios sem a menor aplicação prática.
No primeiro caso, por exemplo, podemos citar alguns exercícios como os propostos por Charles Glass, como a remada baixa com cabos sentado um pouco mais alto do que os cabos (possibilitando um trabalho mais isolador na parte inferior do latíssimo dorsal), a remada curvada com halteres e com o corpo em sentido contrário, que ficou conhecida pelo vídeo o qual o treinador gravou com o atleta fisiculturista japonês Hidetada Yamagishi, entre outras propostas do treinador como o leg press 45º unilateral com o corpo lateral à plataforma do equipamento e etc.
Já no segundo caso, podemos citar alguns exercícios como aquelas famosas “acrobacias de academia” que mais ocupam espaço útil na sala de musculação do que outra coisa. Exercícios com muitos pulos, exercícios de ponta cabeça, pendurados em aparelhos, entre outras tantas babaquices. Esses exercícios até tem alguma aplicação, mas será que seu custo X benefício em termos de aplicação e da possibilidade de lesões, vale a pena? Será que podemos considerar que eles tenham uma eficácia a qual justifique o risco que eles trazem? Na maioria dos casos não!
Isso não quer dizer que os exercícios do primeiro caso sejam totalmente seguros. Muitos deles fogem de princípios biomecânicos naturais e se não forem feitos de maneira muito adequada, certamente trarão problemas relacionados a lesões. Por isso só devem ser executados com acompanhamento profissional qualificado e que entenda deste tipo de exercícios não usuais.
Aonde podemos aplicar os exercícios não convencionais na musculação?
Os exercícios não convencionais muitas vezes requerem uma experiência ou uma especificidade muito grande a qual uma boa formação não garante que o indivíduo consiga aplicar adequadamente esses conceitos. Mais do que isso, é necessário que ele tenha experiência e vivência, coisas que só vem com o tempo.
Os exercícios não usuais são indicados em casos específicos, por exemplo, indivíduos que estão em reabilitação e necessitam de movimentos específicos, ou para indivíduos em estágio avançado, como estratégia de desenvolvimento. Neste caso, muitas vezes o incremento de carga não é a melhor solução. Essas pessoas podem se beneficiar trazendo uma forma diferente de trabalhar a musculatura alvo, isolando-a, ou buscando correções (aprimoramentos também) em regiões específicas as quais podem ser atingidas com esses exercícios.
Como costuma-se dizer, quanto mais se treina o corpo, mais ele se torna intreinável, ou seja, mais difícil é ter desenvolvimento com os mesmos estímulos e por isso que muitas vezes uma brusca variação é necessária para dar continuidade ao progresso.
O grande problema é que esses exercícios muitas vezes são erradamente aplicados antes de exercícios básicos na musculação, os quais conferem um trabalho de melhora nas condições neuromotoras do corpo, na estabilidade e na própria concepção corpórea. Por exemplo, sabemos que os primeiros ganhos na musculação devem advir de ganhos intermusculares e não intramusculares, como se acreditava no passado. E essa é a primordial justificativa pela qual é interessante começar com um indivíduo trabalhando com exercícios livres do que em máquinas ou em barra guiada.
Recentemente (2015), um estudo publicado na Journal of Strength & Conditioning Research demonstrou que com crianças é primordial ensinar as coordenadas de exercícios de levantamento de peso olímpico e suas respectivas técnicas antes de inserir intensidade e/ou treinamentos específicos em modalidades como a pliometria, o treinamento de resistência tradicional ou mesmo o treinamento de levantamento de peso olímpico.
Portanto, saiba sim que exercícios não usuais podem ser interessantes, mas para ultrapassar limites, não para chegar até eles. Ainda sim, você deve ter cautela com a utilização dessas técnicas e optar por exercícios não usuais, mas que sigam padrões anatômicos e biomecânicos mais naturais possíveis de seu corpo.
Conclusão
Contudo, podemos entender que exercícios não convencionais têm uma aplicação na musculação, mas em casos específicos. Do contrário, a musculação feita de forma tradicional e básica ainda parece promover mais segurança, eficiência e ganhos gerais os quais esses exercícios não podem proporcionar. Esses exercícios serão utilizados para especificidades as quais o treinamento tradicional tenda a solicitar com menos intensidade.
Portanto, saber quando e como aplicar esses movimentos é sempre fundamental, a fim de garantir segurança e eficácia. É necessário entender todos os princípios desses mesmos movimentos, tanto básicos, quanto não usuais.
Bons treinos!