Intolerância à lactose, alergia à caseína e galactosemia: O que são essas três doenças?

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Gerando inúmeras dúvidas entre as pessoas e gerando prejuízos pela falta do conhecimento dessas três patogenias de diferentes intensidades, a intolerância à lactose, a alergia à proteína do leite e a galactosemia são importantes marcadores da necessidade de modificação dietética bem como na modificação de inúmeros aspectos da rotina de uma pessoa. Mas, qual a relevância que isso tem para as pessoas comum? E como isso pode afetar o praticante de musculação? Há formas de tratamento para elas?

Problemas relacionados ao consumo de leite tem se mostrado cada vez mais evidente em algumas populações. Em especial, os povos que culturalmente não tem o hábito no consumo de leite ou na criação de gado e equinos demonstram o desenvolvimento cada vez maior dessas doenças. Porém, mesmo em populações onde há um consumo elevado de leite e derivados, como a Norte-Americana, pode-se ver uma incidência relativamente alta também desse desenvolvimento. Mas, afinal, a que se devem esses fatores? Quais são os problemas relacionados ao consumo de leite para algumas pessoas? Na realidade, somente ao consumo de leite pode ser apontado como causador ou agravador dessas doenças?

A intolerância à lactose

Essa é uma doença caracterizada pela não possibilidade de digestão do dissacarídeo (lactose) em dois dissacarídeos, sendo eles a galactose e a glicose, para que possam ser absorvidos no intestino e disponibilizados para devidos fins na corrente sanguínea. Essa hidrólise é feita pela enzima lactase, no intestino delgado. Pessoas que não produzem essa enzima ou que a produzem em baixas quantidades passam a ser chamados de intolerantes à lactose.

A intolerância à lactose é uma doença que pode vir geneticamente, fazendo com que o indivíduo nasça com ela, pode advir no decorrer da vida por questões de genética, fazendo com que consumidores do dissacarídeo passem a desenvolver intolerância a ele, geneticamente ou por questões fenótipas, normalmente associada em hábitos do baixíssimo ou do não consumo de leite e derivados.

Uma vez o corpo sendo projetado para menor produção de lactase, devido aos fatores relacionados à evolução, o leite tem sido considerado um alimento apenas para bebês, e bebês de SUAS ESPÉCIES, fazendo com que haja a falsa afirmação de que o humano apenas deve consumir leite nos primeiros meses de vida.

Geneticamente, a baixa produção de lactase com o passar da vida é explicado pelo consumo substituído de leite por outros alimentos como a carne e derivados, ovos e afins. Nos primórdios esses eram os alimentos que eram mais facilmente disponibilizados ao homem, diferente do leite. Assim, como forma preventiva para a privação de gasto energético, não seria conveniente ao corpo produzir algo ao que não lhe fosse útil. Porém, a justificativa do não consumo de leite por esse fator não é das mais plausíveis, uma vez que, teoricamente, o ser humano também não nasceu para comer cereais e, no entanto, esses também são alimentos presentes em nossas mesas.

Ao não conseguir digerir adequadamente a lactose, a mesma passa a ser fermentada no intestino por algumas bactérias. Isso faz com que haja problemas gastrointestinais, a iniciar de gases, desconfortos gástricos, enjoos, diarreias, inapetência, dores abdominais, desidratação, entre outros. Portanto, é fundamental que a mesma seja rapidamente identificada e que seu grau também seja identificado, uma vez que pessoas podem ser totalmente intolerantes à lactose, a ponto de não conseguir se quer digerir traços de lactose e algumas outras, conseguem digerir quantidades de queijos e outros alimentos com menor teor do carboidrato.

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Não existe um tratamento para a intolerância à lactose, a não ser o uso da enzima lactase por uso externo. Entretanto, isso é bastante inconclusivo, pois alguns indivíduos NÃO apresentam resposta a esse uso e outros necessitam ajustar as dosagens frequentemente, a fim de obter os resultados da mesma. A lactase é uma enzima que está começando agora a receber certa difusão no Brasil. Até bom tempo atrás, a única forma de utilizá-la era com prescrições médicas ou nutricionais específicas e através de manipulação. Hoje já é possível compra-la em algumas farmácias e em diversas versões, desde as tradicionais cápsulas até mesmo produtos em sachês para culinária.

Os produtos sem lactose também vem recebendo atenção. Alguns apresentam-se com a adição de lactase ou por filtragens específicas as quais retiram a lactose do leite ou de seus derivados. Alguns produtos ainda, pelos processos naturais de produção podem reduzir grandemente o teor de lactose e fazer com que o mesmo chegue a quase zero… É o caso dos queijos maturados, é o caso de leites e derivados de algumas espécies, como o de ovelha e outros.

Infelizmente esses produtos ainda custam caro e não são acessíveis a toda população. Além disso, não são tão fáceis de serem encontrados.

A alergia à caseína

As alergias, normalmente advém de fatores que podem ser tóxicos ou não tóxicos. No caso dos tóxicos, eles normalmente provém de problemas relacionados com substâncias farmacológicas, como a cafeína. Já as não tóxicas variam individualmente com a susceptibilidade de um indivíduo com algumas substâncias presentes em algum (ns) alimento (s), sendo essa imunomediada. Basicamente, o que ocorre é uma resposta anormal do sistema imunológico quando o corpo é exposto a determinada substância.

No caso especificamente do leite, as principais substâncias ou compostos que geram alergia, são as caseínas (em especial as alfa e bea), as proteínas do soro do leite, a beta-lactoalbumina e a alfa-lactoalbumina.

Frente a resposta anormal do corpo, a exposição à essas proteínas desencadeia reações que podem variar de indivíduo para indivíduo e frente as quantidades ingeridas. Elas podem ser manifestadas intensamente, cerca de 2h após o consumo ou até 72h. Obviamente esse é um espaço MÉDIO e não preciso. É importante ainda destacar que ambas as apresentações clínicas podem estar em um mesmo indivíduo.

Ao se iniciarem as reações alérgicas, podem ocorrer desde desconfortos gástricos, problemas na pele e até mesmo no sistema respiratório, em casos mais extremos e delicados.

A alergia à caseína, é mais comum com a ingestão do leite de vaca, entretanto não se deve desconsiderar que o leite materno também pode apresentar os mesmos prejuízos para esses indivíduos alérgicos.

Normalmente para se diagnosticar a alergia, após a desconfiança, podem ocorrer procedimentos tais quais a “provocação” (provas X tentativas), a endoscopia e o prick test (dosagens de Ig-E).

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As alergias são muito mais difíceis de serem lidadas do que a intolerância. Além dos efeitos e sintomas muito mais perigosos, inclusive para a vida, em alguns casos, esses indivíduos sofrem com a dieta, pois necessitam de alimentos muito específicos. Traços de leite não trarão prejuízos ao intolerante à lactose (apenas se forem traços de lactose), entretanto ao alérgico, esses podem ser sinônimo de prejuízo. Portanto, não só uma dieta adequada, mas alimentos específicos são requeridos à essas pessoas.

Galactosemia

A galactosemia é um erro genético natural de um indivíduo na capacidade de conversão da galactose para a glicose. Isso se deve a problemas em três enzimas fundamentais nessa conversão: A galactose-1-fosfato uridil-transferase, a galactoquinase e a uridina-difosfato galactose-4-epimerase. A deficiência ocorre, normalmente em alguma dessas três enzimas, demonstrando três classes diferentes de galactosemia.

A galactose é fosforilada, formando galactose-1-fosfato, a qual reagirá com a UDP Glicose, dando origem a dois produtos, a UDP-Galactose e a Glicose-1-fosfato. Assim, a glicose-1-fosfato pode ser convertida em glicose no tecido hepático. A UDP-Galactose pode ser convertida ainda em UDP-Glicose, fazendo com que ela entre no processo até que possa ser convertida em Glicose-1-Fosfato.

Caso haja, nesse processo, algum dano causado por ordem das três enzimas supracitadas, então diagnostica-se o indivíduo como portador de galactosemia, em diferentes níveis e intensidades de tolerância, porém que normalmente são resolvidos de maneira parecida que é com a retirada do carboidrato em questão da dieta.

Por ser genético, a galactosemia já apresenta fatores nos primeiros dias de vida, como dificuldade no aumento de peso, anorexia, icterícia, hepato-esplenomegalia (podendo levar à cirrose), ascite, vômitos e problemas abdominais, além de casos graves como atraso psicomotor (chegando ao próprio retardo mental).

Galactose, apesar de ter como principal fonte o leite, não está presente apenas nele. Além de seus derivados, a galactose pode ser encontrada em alimentos de até mesmo origem vegetal como o grão-de-bico, a ervilha, a lentilha, a soja, entre outros.

Porém, o tratamento da galactosemia varia de acordo com a enzima a qual o indivíduo é deficiente no metabolismo da galactose.

Infelizmente, a galactosemia é uma patogenia a qual não pode unicamente tratada com a dieta. Indivíduos podem apresentar desde retardo mental a falência ovariana mesmo sendo diagnosticados precocemente e não consumindo alimentos que contenha galactose. Para explicar isso, a primeira hipótese diz que endogenamente, alguma conversão de UDP-Glicose poderia ser a causa, a segunda diz que a depleção de metabólitos como o inosinato diminuem as quantidades de galactiol e outros carboidratos causam um bloqueio na produção de glicoproteínas e no metabolismo do fosfatidilinositol, causando prejuízos de sinalizações celulares, e por fim pela transferência da galactose da mãe para o feto, durante a gestação. Esses casos, se referem em especial às deficiências à falta das enzimas GALT e GALK, porém não da enzima GALE.

No caso da ausência da GALE, o indivíduo apesar de possuir galactosemia, deve consumir quantidades estabelecidas por ordem médica e nutricional de galactose, afinal quando forma-se a UDP-Galactose à partir da UDP-Glicose, o indivíduo torna-se dependente da galactose, pois com a ausência da UDP-Galactose teríamos consequências sérias no metabolismo, como, por exemplo, na síntese proteica.

Assim, o indivíduo deve consumir quantidades de galactose na dieta, mas que ao mesmo tempo NÃO sejam tóxicas a ele.

Há grande relevância ao praticante de musculação?

Essas patogenias são prejudiciais a quaisquer indivíduos, acarretando problemas que variam desde aspectos dietéticos, a desconfortos e em casos mais extremos problemas irreversíveis e até mesmo a morte. Entretanto, especificamente para um praticante de musculação, essas podem representar prejuízos em seus ganhos, principalmente por serem doenças relacionadas a ingestão de leite e derivados, que são riquíssimas fontes de proteínas de alto valor biológico e altíssimo PDCAAs, ricas em outros nutrientes como o cálcio, a vitamina D3, magnésio, zinco entre outros, e por resultarem em prejuízos que podem ter relação a perda de nutrientes, dificuldade na manutenção de peso, desconfortos gastrointestinais e na síntese de proteínas endógenas.

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Por mais que o praticante de musculação, normalmente tenha o hábito (de certa forma mau hábito) de evitar o leite e grande parte de seus derivados, principalmente por ainda acreditar em mitos totalmente dispensáveis, ele grandemente costuma utilizar outros derivados mais “limpos” como o whey protein, a caseína e outros suplementos proteicos, inclusive aminoácidos, que são extraídos, na maioria dos casos, de fontes lácteas. Para os menos céticos, a utilização de alimentos derivados do leite pode se tornar inviável, mesmo assim.

É importante observar que em algumas dessas doenças existe certo grau de tolerância. Isso quer dizer que não necessariamente todos os alimentos que contenham a lactose, a galactose e as proteínas do leite irão fazer mal, mas tudo dependerá da quantidade presente no alimento ingerido. Existe o fato também de que o metabolismo é bastante dinâmico. Assim, estando em diferentes situações, o mesmo pode ou não, a depender do momento, do dia, das condições gerais apresentar maior ou menor tolerância a esses nutrientes.

Neste artigo falamos sobre como intolerantes a lactose podem suprir as necessidades da musculação: https://dicasdemusculacao.org/sou-intolerante-a-lactose-e-pratico-musculacao-o-que-fazer/

Diagnóstico, tratamentos e prevenções

É claro que um tratamento adequado, seja de quaisquer dessas três doenças é fundamental. Entretanto, para que isso ocorra, é necessário um diagnóstico específico de um bom profissional médico e de um nutricionista. É necessário avaliar especificamente o quadro, o motivo da doença, a tolerância e etc. Após isso, é traçado o planejamento de tratamento, procurando ser o mais versátil possível e menos restritivo, procurando deixar a vida do indivíduo o mais normal possível e procurar, especificamente para o praticante de esportes, permitir que ele não tenha prejuízos em seus resultados.

Apesar do tratamento ser relevante, a melhor maneira mesmo de evitar eventuais contratempos é com a prevenção. Procure manter-se longe de derivados de leite, em especial, caso porte essas doenças. Mesmo na ingestão, seja cauteloso o suficiente e jamais coma o que você não sabe a procedência nem como foi feito. Pode parecer “frescura”, mas na prática, os portadores dessas doenças sabem o quanto isso faz a diferença.

Conclusão:

Mostrando-se em diferentes formas, intensidades e singularidades, as três doenças, normalmente agravadas pelo consumo de leite e seus derivados, muitas vezes são confundidas ou entendidas como a mesma coisa, quando, na verdade, são fatores bem distintos.

É necessário um bom diagnóstico para que se possam identificar as causas e intensidades dessas doenças e traçar os melhores planos nutricionais e terapêuticos a fim de maximizar a qualidade de vida de um indivíduo, seja ele praticante de esportes ou não.

Boa prevenção!

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