Mitos e verdades sobre execução errada nos exercícios de musculação

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Durante o decorrer de todos os anos do desenvolvimento da musculação, a busca pela realização de movimentos precisos foi algo sempre evidente pelo fato de que, com a precisão, consegue-se trabalhos específicos nos músculos alvos e, portanto, um resultado melhor.

Entretanto, juntamente com essa movimentação precisa e, teoricamente correta, começou-se a desenvolver técnicas as quais pudessem aumentar a intensidade dos treinamentos, tornando-os mais propícios para algumas pessoas e, por hora, recrutando o músculo de uma diferente forma, o que, também teoricamente, o faria fugir de cair em adaptações e não progredir.

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Porém, diante dessas duas vertentes, há uma grande discussão a respeito do que pode ou não ser considerado movimento correto e do que pode ou não ser considerado uma técnica válida para a realização de alguns trabalhos específicos. Por exemplo, podemos citar as controversas que há nas técnicas de roubos, de repetições parciais e também, citar o inverso que é a perda da capacidade de força máxima e explosiva em prol de um trabalho preciso e que muitas vezes parece ser sem a devida intensidade.

Portanto, para desmistificar alguns desses mitos e elucidar algumas dessas verdades, esse artigo tem como premissa o objetivo de trazer alguns fatos a tona para que você possa refletir e tirar suas próprias conclusões do que pode ou não ser considerado errado na musculação.

A biomecânica: Papel fundamental para a execução de movimentos

Quando falamos de biomecânica, refletimos o pensamento a mecânica (ou movimento) do que é vivo, ou seja, trazendo ao nosso meio, a movimentação do ser humano.

A biomecânica é padrão e ao mesmo tempo individual. Por exemplo, a articulação dos cotovelos de todos os indivíduos sem distúrbios físicos, é do tipo dobradiça e permite o movimento de flexão e extensão de cotovelos no eixo latero-lateral no plano sagital. Entretanto, a precisão dos ângulos, a forma de movimentação, a distância dos cotovelos ao tronco entre outros fatores é individual de cada pessoa. Essas alterações ocorrem por ordem genética ou mesmo pela forma de utilização do membro, articulação ou seguimento no dia a dia.

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Utilizando isso na musculação, podemos entender que existam formas padrões de executar os movimentos, porém essas formas sofrem (e devem sofrer) alterações de acordo com cada indivíduo em questão, sendo que uns terão maior tendência para executar um tríceps testa com cotovelos mais fechados, outros mais abertos… E isso não quer dizer que quaisquer deles esteja errado. Forçar uma biomecânica não natural, muitas vezes pode ser sinônimo de lesão. Utilizando o mesmo exemplo do tríceps testa, indivíduos com tendência a executar o movimento com cotovelos mais abertos podem sofrer problemas na região troclear, no epicôndilo do úmero ou até mesmo ter problemas de ligamentos na região, como os colaterais ulnar e radial, além de atingir negativamente a cápsula articular.

Portanto, a biomecânica deve ser utilizada como uma forma padrão, mas não como uma ÚNICA forma de execução dos movimentos.

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Iniciantes: Técnicas de intensidade são válidas?

Sempre que falamos em aumentar a intensidade do treino da musculação, a maioria das pessoas imagina o incremento de carga, quando na realidade não é bem assim que funciona. Existem inúmeras maneiras de aumentar a intensidade dos treinamentos sem o aumento do peso e utilizando até cargas menores do que a que habitualmente você está adaptado. E é muitas vezes isso que nos convém fazer com iniciantes, pois eles NÃO estão preparados para um brusco incremento de carga e necessitam aumentar a intensidade do treino para não estagnar.

Na realidade, bodybuilders hoje em dia procuram aumentar o máximo da intensidade dos seus treinos com o uso de cargas mais baixas possíveis, justamente para prevenir lesões.

A grosso modo, não acho que um iniciante esteja adaptado o suficiente para progredir com cargas de maneira tão rápida. Além do tecido muscular que deve estar preparado para isso, ainda temos de levar em consideração os tendões, articulações, os ligamentos, entre outras estruturas. Estas, inclusive, demoram muito mais tempo para se adaptar e recuperar do que o músculo, propriamente dito.

Outro fator que nos leva a crer que iniciantes talvez não devessem trabalhar com técnicas como a do roubo é o fato de que sua concepção corpórea não está devidamente estruturada. Será que em uma remada livre ele está contraindo a lombar, fazendo adução escapular antes de puxar a barra ou halter ou mesmo posicionando adequadamente as pernas e pés? Será que ele tem uma capacidade neuromotora suficientemente desenvolvida para isso? Creio que não…

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Obviamente, ninguém está dizendo que você deva treinar como “um banana”, mas que você deva utilizar a inteligência para seus treinamentos.

Técnicas avançadas e movimentos incorretos: Qual a ligação entre esses dois fatos?

Algumas técnicas avançadas talvez fujam de uma biomecânica teoricamente certa, mas isso é justificável pela própria biomecânica.

Exemplifiquemos, por exemplo, um atleta de 100kg, bem desenvolvido, realizando uma remada curvada com 160-180kg. Obviamente, seu tronco não estará totalmente ereto, sua lombar não estará totalmente firme. Isso porque, a barra e a força da gravidade o puxam para baixo e seu peso é menor do que o peso da barra com as anilhas, então é realmente impossível ele manter uma estabilidade de 100% no movimento. Porém, esse comprometimento é válido, pois ele consegue atingir o músculo com maior potência e trabalhar primordialmente o ventre muscular, contribuindo para um estímulo diferenciado no tecido em questão. Do contrário, não podemos considerar como sendo uma forma de “roubo” ou uma tendência natural do corpo quando curvamos a região lombar em supinos (salvo sob as técnicas de ponte, no powerlifting). Esses movimentos ocorrem, pois o corpo tenta aproximar o tronco da barra, encurtando o movimento através da hiperextensão lombar. Neste caso, seja com 100kg ou com 50kg, um mesmo atleta de 100kg corpóreos pode muito bem se estabilizar no banco do supino e executar o movimento corretamente.

Então, você percebe como é tudo muito mais complexo do que se imagina ser? Simplesmente, temos de entender o que é uma tendência natural do corpo a executar um movimento inadequadamente, mas o benefício que isso irá trazer e temos de entender o que são essas execuções erradas as quais não são justificáveis e muito propensas a gerar lesões.

Um atleta de nível avançado, com a devida concepção corpórea (a qual só é conquistada com o passar dos anos de treino e persistência), sabe quando e no que ele pode executar inadequadamente um movimento frente ao seu custo X benefício, mas um indivíduo o qual começou ontem na academia, pouco entenderá isso e terá resultados ruins e irá se lesionar. Além disso, a utilização de proteções e artifícios para a segurança desses atletas é algo indispensável no treinamento.

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Movimentos inadequados para pessoas comuns nas academias de musculação:

Estamos comparando um indivíduo atleta e/ou mesmo experiente e um novato ou uma pessoa a qual pratica musculação para melhora na qualidade de vida, que na realidade é o maior público das academias. Então, nada mais justo seria do que dedicar um único tópico para citar que esses indivíduos devem executar os movimentos com a biomecânica mais correta possível (e individual também). As capacidades de força, mesmo de explosão, capacidade de agilidade, entre outros requisitos conseguidos com a musculação não necessitam de trabalhos intensos ao ponto de termos de executar “erroneamente” um movimento. Esses indivíduos muito mais se beneficiarão com execuções corretas e com a solicitação dos músculos alvo, propriamente ditos. Fundamentalmente, isso também é importante para os deixar longe de quaisquer chances de lesão.

Para que isso possa ocorrer é necessário elucidar que seja fundamental a presença de profissionais extremamente qualificados. Hoje, no mercado de academias, cada vez mais busca-se baratear os custos e com isso reduzir a qualidade de quem se contrata. O resultado é que muitas pessoas menos entendidas ficam a mercê desses “profissionais” e ficam sujeitos a serem submetidos aos seus clássicos erros que são tão preocupantes quanto o resultado ruim.

Conclusão:

Os movimentos podem ser considerados corretos ou errados a depender do ângulo em que são analisados e a depender do indivíduo que está realizando-o e como está realizando. Isso porque, biomecanicamente somos individuais, com nossas particularidades que devem ser respeitadas. Além disso, os níveis e objetivos dos diferentes treinamentos são fundamentais para compreender até que ponto podemos considerar algo errado ou certo dentro de padrões pré-estabelecidos dentro da biomecânica.

Por fim, é importante sempre considerar a estrutura e profissionalização de sua academia para que sejam fornecidos serviços de qualidade e que contemplem tudo que foi abordado anteriormente.

Sua saúde é seu maior bem, então, não seja negligente com ela!

Bons treinos!

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