Se há algo que não gosto é ceticismo. Creio que muito podemos aprender quando temos a possibilidade de ter uma mente aberta para o entendimento de novas idéias, de novas diretrizes e quando nos permitirmos discutir sobre dado assunto sem necessariamente crermos que somos a razão absoluta da verdade.

Entretanto, tenho que concordar que algumas delimitações devam existir nesses processos, afinal estamos falando de quesitos básicos de respeito e organização, o que geram uma convivência muito mais harmoniosa em nosso âmbito de prática esportiva, seja ela qual for.
Se um indivíduo deve aprender futsal em um local próprio para a prática do esporte, um indivíduo mesatenista deve praticar seus treinos em uma mesa de tênis de mesa, ou um indivíduo que trabalha com TI deve ter o computador como sua ferramenta básica de trabalho, por que não devemos dizer que as inúmeras práticas que são fornecidas em uma academia de musculação (aulas como body pump, jump, aulas de ginástica, crossfit, recreação infantil, yoga, alongamentos, pilates etc etc etc) devem ter seu devido espaço? Ou seja, até que ponto podemos dizer que há uma limitação entre as diferentes práticas e a mistura no mesmo ambiente? Até que ponto podemos considerar isso algo prejudicial tanto para um praticante árduo de musculação, quando para os indivíduos das outras tantas modalidades? É justamente sobre isso que debateremos a seguir…
As novas eras na musculação
Se pegarmos a musculação em seus primórdios, seja no Brasil ou em qualquer outra região do mundo, observaremos algo em comum: Poucos equipamentos, nada além de musculação e o simples e básico era o que dispunham os atletas e esportistas da época.
Dessa forma, é claro perceber que você não entraria em um ginásio e encontraria trampolins, máquinas elaboradas ou tudo aquilo que vemos nos dias de hoje, mas encontraria barras, halteres, anilhas, talvez algumas cordas e elásticos e alguns Ketbells. Nada de muito especial. E, engraçado que grandes físicos, tanto esteticamente, quanto em performance eram bem encontrados ali.

De qualquer forma, seria inevitável dizer que o progresso no mundo também não adentraria no âmbito das academias, uma vez isso sendo inevitável. Passam a existir técnicas cada vez compactuações melhores, sistemas melhores e apetrechos melhores. Não é a toa que caras como Joe Weider, ao descobrirem a aplicabilidade de máquinas para bodybuilders passaram a desenvolver e utilizar linhagens como a Natillus ou a própria e conhecida Hammer Strenght… E ganharam um bocado de dinheiro com isso.
É óbvio que pessoas mais céticas adeptas ao básico estranharam essa idéia, mas convenhamos que muitos desses básicos também passaram a utilizar e/ou aplicar essas inovações em seus treinamentos. Apesar disso, não deixou de ser uma invasão no que já existia.
Não podemos negligenciar e dizer que a evolução como um todo parou por aí ou tampouco que ela não teve um progresso cada vez mais contínuo (e, de fato ainda tem).
Com o passar dos anos, foram desenvolvidas não só novas técnicas e equipamentos de treino, mas novos modos de entender o que poderia ser praticado dentro de um ginásio. Não é por mais que hoje existem tantas aulas e tantas modalidades adaptadas à musculação tradicional nas academias mais simples as mais sofisticadas.
De certa forma, digamos que isso seja bom: Se, por um lado perdeu-se parte do trabalho básico com pesos, por outro ganhou-se adeptos à atividade física trazidos pelo quesito prazer, distração ou mesmo por práticas relativamente interessantes e mais motivadora para alguns. Não posso ser cético ao ponto de dizer que somente a musculação tradicional seja algo que funcione. Cada qual modalidade pode ter uma determinada aplicação para seu público alvo em questão, bem como para objetivos em questão.
Mas, então, onde se encontra o problema?
O problema na realidade não é o existir dessas diversas aulas. Como citado, sou a favor de todas. A Recreação auxilia no desenvolvimento infantil, as aulas de estabilidade, concentração e relaxamento auxiliam pessoas com nível de estresse elevado, aulas de coordenação motora podem auxiliar indivíduos com déficits nessa habilidade, aulas de reabilitação podem auxiliar pessoas lesionados e assim por diante. O fato, é que temos que saber que cada coisa deve estar em seu espaço e respeitar o espaço alheio também. Quer um clássico exemplo? Qual seria a lógica de uma banda de pagode tocar em um bar de rock n’ roll? Ou, qual seria a lógica de um comediante ir ao palco de um discurso político? Qual seria ainda a lógica de colocarmos um documentário em outro idioma para crianças primárias? Pois bem, é óbvio que temos que ter essa noção básica de que cada coisa deve estar dentro de seu espaço e dentro de suas limitações.
Sinceramente, veria como um desrespeito se estivesse praticando yoga e alguém decidisse dar urros com pesos ao meu lado. Da mesma forma, como você se sente quando está concentrado em um agachamento livre e passa alguém ao seu lado pulando corda em um exercício ou mesmo uma fila de crianças em recreação na academia? Claro, da mesma forma, se sentirá incomodado.
Sem sombra de dúvidas, essas inadequações de espaço são resultados muitas vezes não da falta de respeito em si, mas da falta de conhecimento de que CADA COISA É UMA COISA, ou seja, um indivíduo que pratica um treino com cordas, pulando, não tem o mesmo objetivo de um atleta básico que está agachando com duas ou três vezes o seu peso, não é?
Venhamos e convenhamos que nenhum está certo nem errado, mas cada um precisa do seu espaço, do contrário começam a ocorrer as confusões e começa-se a enxergar mau o lado oposto, devido as divergências. Começam a ver o musculador tradicional como alguém que não aceita ninguém ao seu lado, que é bruto ou estúpido, além do famoso “antissocial”. Por outro lado, o musculador começa a ver essas pessoas como frescas e começa a desvalorizar a sua prática física.
Isso tudo gera sim uma sensação de mau estar comumente observada e que poderia ser evitada com pequenas mudanças, como o respeito pelo espaço alheio.
Afinal, a mescla de diferentes modalidades em um ambiente, pode gerar transtornos maiores?
Saindo de um campo unicamente de irritabilidade, se formos analisar de maneira crítica, podemos dizer que sim, há uma interação extremamente negativa que ultrapassa simplesmente o descontentamento. Imagine, por exemplo, em uma sala de pesos, uma fila de crianças passando por atividades de recreação. O que poderia acontecer de mais grave? Um esbarro? Um aluno ser derrubado de um agachamento livre ou a barra de um supino ser esbarrada durante a realização do mesmo? Ainda, imagine um peso caindo sobre uma criança…
Pessoas que praticam atividades como corridas explosivas entre as séries… Imagine altas trombadas possíveis… Cordas que são utilizadas para pular… AO LADO DO HACK DO AGACHAMENTO LIVRE, podendo gerar um tremendo acidente para ambas as partes…
É impossível descrever ao certo o que se pode acontecer em casos emergenciais como esses, afinal se soubéssemos de tudo, certamente teríamos como nos prevenir melhor.
Eventualmente, academias com poucos espaços ainda, podem ser mais largamente prejudicadas.
E há como resolver isso?
Da mesma forma, é possível auxiliar em uma redução nesses contratempos adotando medidas fáceis, simples e que possam não custar um valor monetário significativo. Entre eles, podemos citar:
– Distribuição melhor das aulas: não realizar muitas aulas de uma só vez em uma academia. Isso costuma gerar superlotações. É conveniente saber distribuí-las durante todo o dia.
– Respeito pelo espaço alheio: Esteja você utilizando ou não a academia para essa ou aquela aula, é necessário saber respeitar o espaço do próximo, independente do que ele esteja fazendo lá também. Assim, procure se quer passar próximo de alguém que está no meio de uma execução de QUALQUER EXERCÍCIO.
– Propor diferentes ambientes para as diferentes aulas: como dito, se cada coisa tiver o seu ambiente, os riscos de descontentamento são menores. Essa é a importância de, por exemplo, dividir bem os horários (principalmente em academias menores), pois assim você possuirá salas livres para prática daquela modalidade e poderá gerar melhores benefícios para ambos os casos.
– Alternância entre uso de equipamentos e espaços: Sim, caso nenhuma dessas medidas seja válida ou plausível, vale sempre a pena o bom senso: Caso esteja próximo a alguém e vá executar exercícios que requerem bom espaço, por exemplo, jamais o faça ao mesmo tempo do outro. Procure interargir entre o descanso e execução de um e outro.
Conclusão:
Cada atividade deveria ter o seu respectivo espaço a fim de não prejudicar nem o praticante de musculação nem tampouco os outros indivíduos. Com medidas leves, fáceis e bem organizadas, conseguimos então diminuir não só o grau de descontentamento, mas, de contratempos que podem ocorrer.
Cada modalidade merece seu respeito, mas, deve respeitar o espaço alheio também!
Bons treinos!