Quando para para observar os praticantes de musculação em minha academia, me vem na cabeça uma serie de questionamentos: como vai estar este praticante de musculação daqui a anos? Seu corpo vai aguentar a tanto excesso por anos? Como está a resposta dos excessos de treinos atualmente? Essa pessoa está em overtrainng e seu corpo não irá aguentar por mais alguns anos… Enfim, perguntas sobre o futuro destes praticantes e sobre o futuro do esporte amador no país.
Depois que vem as perguntas, eu paro para refletir e vejo que a maioria dos praticantes de musculação de hoje, principalmente o amador, é irresponsável. Treina sem acompanhamento, come de maneira nada adequada, faz uso de produtos que nem sabe como funciona… Enfim, daqui a anos não irão conseguir muitas coisas, a não ser problemas e doenças.
Pensando nisso, resolvi parar e escrever um pouco sobre isso, alertando a esses praticantes que pensem e usem a inteligência, para que assim possam obter bons corpos, saúde e bem estar em um futuro não tão distante. Se você sofre com algo do que comentei acima, te convido para refletir um pouco e pensar. Vem comigo, que vou te explicando por este artigo.
Indice / Sumário
“Treine mais, coma mais, descanse mais”, “No Pain, No Gain!”: Alguns dos jargões entendidos erradamente
Quem nunca popularizou essas frases ou mesmo nunca as usou em sua autodenominação? Pois bem, entendidas de maneira muito errada, o que elas no trazem não é a necessidade de cometer excessos desnecessários, mas de maneira inteligente realizar o nosso máximo dos aspectos que nos regem. Mais do que isso, superar nossos próprios limites e para essa superação é necessário utilizar a inteligência, a fim de não gerar regressos.
Imaginemos que você deseja quebrar seus limites em determinado grupamento muscular, desenvolvendo-o um pouco mais, afinal ele é seu ponto falho. Então, você decide treiná-lo por horas, diariamente ou até duas vezes ao dia, acreditando que “quanto mais for o estímulo, maiores e melhores serão os resultados”. Mas, será que estamos atingindo realmente nosso máximo fazendo isso?
Imaginemos a necessidade de aumentar nosso peso corpóreo em massa muscular. Seria conveniente nos entupirmos de calorias em excesso, as quais NÃO serão úteis ao músculo esquelético, mas contribuirão para o aumento em nossa gordura?
“Sem dor, sem ganho!”: Há uma necessidade de esforço máximo, o qual não é fácil, o qual o levará por tortuosos caminhos, mas isso não nos remete a treinar por horas “até o músculo doer”, comer em excesso até “o estômago doer” ou dormir a ponto do “pescoço doer”. Sejamos inteligentes e vamos entender estes jargões. Nem tudo é para ser levado ao pé da letra.
“Treinar pesado” não quer dizer colocar peso que não aguente!
Outra concepção que é bastante inserida dentro dos treinamentos resistidos com pesos é o da necessidade de sempre mostrar progresso erguendo mais carga. Verdade que o aumento de carga progressiva estimula e muito a musculatura em termos hipertróficos e hiperplásicos. Entretanto, esse não é o mecanismo único por qual esse estímulo possa ocorrer e esse deve ser feito de maneira inteligente, coerente com suas possibilidades e condições corpóreas. Não adianta colocar mais peso, se não aguenta e vai fazer errado. O risco de lesão é muito grande e os ganhos serão pífios.
Podemos ver atletas como Jay Cutler, Ronnie Coleman, Branch Warren, o qual utilizam alta carga para estimular sua musculatura. Os erros e roubos de execução são inevitáveis, principalmente pelo tipo de estímulo alto que esses atletas requerem. E verdade que eles conseguem atingir seus objetivos treinando dessa forma. Entretanto, podemos avaliar nesses atletas inúmeras lesões com o decorrer dos anos, rupturas, hérnias e outros problemas, exemplo, como Ronnie Coleman acabou por atrofiar um músculo ou outro.
Diferente de nós, ou pelo menos de 99,9% de nós, esses atletas consolidados começaram seus primeiros anos de treinamento, buscando executar os movimentos de maneira correta, de maneira precisa, visando a musculatura alvo, entre outros aspectos. Acontece que com o passar do tempo e a necessidade de alguns tipos de estímulos, começaram a treinar dessa maneira e isso se tornou um hábito. Entretanto, devemos considerar que eles já tinham articulações, tendões, ligamentos e a própria musculatura muito preparados e treinados para aguentar todo aquele esforço e aquele super esforço. E, mesmo assim acarretaram um punhado de lesões.
Imagine se nós decidirmos treinar dessa forma, que na realidade é o que a grande maioria das pessoas faz nos ginásios de musculação. O que seria de nós? E, o que serão desses daqui alguns bons anos? Será que eles manterão o ritmo de seus treinamentos? Será que ainda conseguirão treinar? Conseguirão ter uma vida saudável, sem dores, hérnias e afins? É bom parar para pensar agora, pois depois pode ser tarde.
Não estamos querendo dizer que você NÃO deve utilizar o máximo de carga e nem tampouco que terá bons resultados treinando de maneira leve. Entretanto, não há nada mal em perder em carga, mas estimular a musculatura adequadamente, bem como de acordo com a progressão a qual seu corpo e estrutura permitem. Alguns corpos possuem estruturas mais fortes e maiores do que outros e isso deve ser respeitado. Existem atletas que não conseguiriam suportar tanto peso, causando grande prejuízo por sua natural estrutura óssea. Foi o caso, assumido até pelo próprio atleta, de Flex Wheeler, o qual confessa que deveria ter treinado com menos carga e mantido seu corpo mais leve tanto em offseason, quanto em competição. Você deve superar limites sempre respeitando as suas condições genéticas imutáveis.
A superalimentação: Um cuidado que muitos negligenciam
Comer bem, comer o suficiente e comer adequadamente são passos fundamentais não só para o desempenho esportivo, mas mais do que isso, principalmente para uma saúde adequada e para que a manutenção de processos fisiometabólicos sejam realizados a todo instante. Entretanto, como tudo em excesso, a superalimentação também é algo que proporciona alguns prejuízos. A iniciar, podemos citar a sobrecarga gastroinstestinal, e a longos períodos podemos associar resistências à insulina, quedas metabólicas, aumento de adiposidade, hipercolesterolemia e dislipidemias em geral, descontrole dos instintos de apetite, entre outros.
É fundamental entendermos que manter uma dieta adequada ao longo dos anos de vida é mais do que fundamental. Entretanto, devemos entender que o corpo necessita sair dela de vez em quando. Há pessoas que levam seus protocolos tão ao extremo que acabam tendo a alimentação não como um prazer, mas uma obrigação e algo ruim. Mais do que isso, muitos passam a desistir da prática dietética após alguns anos. Assim, torna-se fundamental manter protocolos os quais possam também ser quebrados e que sejam o mais versáteis possíveis. Lembre-se que ao proporcionar mais e diferentes nutrientes ao corpo também, você adquire a vantagem de maiores e melhores resultados.
O mesmo, ainda incluso na alimentação, vale para a suplementação. Fundamental em muitos casos, dispensável em outros, ela tem sido cada vez mais supervalorizada, muitas vezes tomando lugar da própria alimentação, o que é um erro tremendo! A suplementação deve ter a função de proporcionar ao corpo o que a alimentação, de alguma forma não supre. Assim, é fundamental que não utilizemos suplementos em troca a alimentação. E, isso é tão frequente que podemos afirmar que metade das pessoas que hoje utilizam algum tipo de suplemento proteico, o fazem de maneira TOTALMENTE DESNECESSÁRIA e que essas suas “possíveis necessidades” podem ser supridas apenas com a alimentação em sua forma tradicional.
Como você enxerga seu aparelho gástrico e excretor dentro de anos? Será que sua viabilidade continuará a mesma? Certamente não e a probabilidade de ter menor funcionalidade e apresentar problemas os quais poderão prejudicar a sua vida são bem evidentes.
O uso de substâncias ergogênicas
É indiscutível que exista no meio esportivo competitivo o uso de ergogênicos, que variam desde hormonais a outras substâncias lícitas ou ilícitas, em sua grande parte. Entretanto, esse uso vem cada vez mais passando dos níveis profissionais aos níveis amadores, o que tem trazido grande preocupação.
Diferentemente de um profissional o qual dedica sua vida ao esporte, esses indivíduos apenas sonham com um corpo melhor e querem proporcionar em semanas o que só o tempo proporcionará solidamente e, com qualidade. Passam a acreditar em transformar seu corpo com ilusões que não são sólidas e que não podem acontecer tão facilmente. Querem acreditar que suas possibilidades genéticas são mutáveis com essas substâncias, o que nem mesmo com a mais poderosa das drogas poderia acontecer.
O resultado é que cada vez mais vemos indivíduos com problemas relacionados aos efeitos colaterais dessas substâncias, indivíduos sofrendo tais consequências, morrendo e assim por diante.
Mesmo em um nível profissional, é essencial definirmos que os efeitos colaterais também existem e até em maiores proporções. Mesmo atenuados com inúmeros outros métodos, esses efeitos não são fracos e pouco a pouco também acabam com a vida do atleta. Não é a toa que atletas em muitos casos costumam viver menos do que indivíduos com hábitos saudáveis de vida. Atletas de modalidades de endurance, por exemplo, são os mais prejudicados com isso tudo.
Desperdiçar a saúde com essas escolhas, muitas vezes não é algo que muitos imaginam fazer. Na realidade, estão vivendo um momento alienador o qual, certamente terão melhor reflexão com o passar dos anos e com a aquisição de um pouco mais de experiência no esporte e na vida também.
Opte pelo árduo, mas pelo correto!
Conclusão:
Podemos dizer que a prática esportiva e os aspectos que cercam o esporte, tais quais a alimentação, o descanso e a suplementação, são bastante complexos. Por um lado, priorizando o máximo de intensidade nesses fatores, alguns passam a entendê-los errado, realizando excessos desnecessários e extremamente prejudiciais ao corpo, os quais pouco a pouco acarretarão prejuízos a longo, médio e a curto prazo. Mas, até aonde podemos considerar como intensidade os excessos que cometemos? A que ponto isso pode realmente nos trazer algum tipo de benefício?
Desconsiderando os reais limites e possibilidades de seu corpo e mente, esses indivíduos vislumbram um sonho momentâneo, mas esquecem que o presente construirá seu futuro, fazendo com que assim esse seja diretamente refletido com a colheita do que é plantado hoje. Passam a treinar inadequadamente, comer inadequadamente e/ou desregradamente, passam a não dar chances para que o corpo e a mente possam se recuperar adequadamente entre outros.
Como você se vê daqui uns anos? Será que você está treinando, comendo e descansando adequadamente visando não só um objetivo momentâneo, mas visando também ter tanta disposição como tem hoje daqui 20 ou 30 anos? Será que chegando lá você não se arrependerá das escolhas as quais fez hoje? Como estarão suas articulações? Como estará sua musculatura? Como estará seu sistema gástrico? Como estarão seus hormônios? Sua ânsia por vitória será continua ou você passará a lutar para reconquistar a saúde perdida? Mais do que isso tudo, como estará sua mente consigo mesmo? Você pensará que deveria ter aproveitado pequenos momentos os quais perdeu na vida?
Pois bem, essas são perguntas e escolhas as quais somente você poderá responder. Portanto, procure respondê-las a si mesmo dia a dia, escolhendo os melhores princípios e optando pelo máximo possível de acertos lógicos.
Bons treinos!