Treinar lesionado (com dores musculares): Vale a pena?

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Quantas vezes ao pensar que teria de treinar naquele dia, um inferno e um impasse surgiu em sua mente? E, por quantas vezes você saiu decepcionado da sala de musculação de seu ginásio por não poder ter realizado um bom treino que pudesse superar seus limites? Aliás, você, por alguma vez já treinou de forma “emendada” simplesmente para cumprir a obrigação daquele dia, mesmo quando deveria estar descansando para, assim que possível realizar um treinamento realmente sério? Pois bem, esses são alguns dos básicos indícios de indivíduos que cometem erros treinando de forma inadequada por contar de estarem com algum tipo de desconforto, lesão ou até mesmo um cansaço próximo ao overreaching ou ao overtraining, caracterizados pelo excesso de atividades físicas frente a uma pífia recuperação. Portanto, encaixando-se ou não nesse grupo, você deveria conhecer alguns patamares os quais podem auxiliar não só a não fazer parte desse grupo, mas também, otimizar cada vez mais seus resultados através da prevenção, que, na verdade, é a melhor solução até então.

O treinamento com pesos, vulgo a musculação, gera inúmeros impactos fisiometabólicos os quais criam situações em nosso corpo pelas quais ele buscará ao máximo a adaptação para, novamente chegar próximo à homeostase. Na verdade, a homeostase apesar de ser conhecida como “o equilíbrio do homem” é a grande forma de desequilíbrio pela qual a vida é possível e dinâmica. Isso porque, se conseguíssemos atingir uma real homeostase, teríamos o equilíbrio de todos os sistemas, fazendo-os não ter necessidade de funcionar e então, obviamente, sem exercerem suas mínimas funções, não haveria vida. Entre todas esses impactos, podemos destacar como sendo os principais a questão energética geral, envolvendo os processos catabólicos e anabólicos dos macronutrientes, em especial, os processos catabólicos e anabólicos envolvendo o corpo e sua composição física, em especial, os processos durante o período de recuperação do treinamento com pesos e os processos resultantes dessa recuperação. Mas, esses são fatores já conhecidos e com diretrizes bem traçadas dentro dos respectivos metabolismos de síntese e degradação. Portanto, não é sobre eles os quais iremos tratar, mas, iremos um pouco mais além, imaginando que eles aconteçam de maneira inadequada, seja por conta de algo inadequado que estejamos fazendo ou, simplesmente, por algum erro por parte do próprio metabolismo.

Como citado, os processos resultantes do treino podem ser convenientes ou não para nós. Normalmente são convenientes quando eles atingem nosso objetivo, ou seja, quando, por exemplo, buscamos a hipertrofia muscular e, através da degradação e síntese de nutrientes, dos processos que envolvem o treino, seu impacto, sua recuperação e suas resultantes, a conseguimos. Entretanto, torna-se não conveniente quando durante esse percurso, por exemplo, sofremos algum tipo de lesão, sendo ela por uma má execução de exercício (um caso onde o motivo é próprio nosso, físico) ou por conta metabólica (por exemplo, uma dificuldade no aumento da massa muscular, típica a se ver em ectomorfos). Quando o problema gira em torno desse segundo caso, o que podemos fazer é, basicamente ir adotando novos protocolos. Porém, quando o problema gira em torno do primeiro caso, onde o agente somos nós, devemos repensar em alguns itens para não cometer erros os quais possam, inclusive ser irreversíveis. Falo das lesões musculares o que também, não deve ser confundido com dor tardia pós-treino, que é, normalmente caracterizada pelo acúmulo de compostos ácidos na musculatura esquelética (H+ ou lactato, por exemplo) os quais geram aquela “dorzinha” ao movimentar o músculo 1 ou 2 dias depois da atividade física. Essas características de dor, também não devem ser confundidas com recuperação total, ou seja, quando falando de recuperação total, não estamos falando em “não sentir a dor tardia pós-treino” (visto essa nem sempre ser obrigatória), mas, principalmente, a síntese de glicogênio, síntese protéica e outras, representando não só a recuperação muscular, mas de tendões, articulações e outras importantes estruturas, inclusive do sistema neurológico.

Certamente, como dito, não é a presença ou a ausência da dor tardia pós-treino que deve definir quando treinaremos de novo, mas, a GROSSO MODO ela pode ser uma das diretrizes, apesar de ainda, eu acreditar que a melhor diretriz seja, além da intuição e da experiência, a observação de progresso ou rendimento nas sessões de treino. Isso quer dizer que, se estamos estagnados, se não apresentamos boas respostas perante ao estímulo do treino, há algo errado e, na maioria dos casos esse algo é a respeito do treino “sobre treino”.

É normalmente indicado que antes de uma próxima sessão de treinamentos (em especial se ele envolver o mesmo grupo muscular) o indivíduo esteja TOTALMENTE recuperado. Entretanto, isso NEM SEMPRE é possível, como em muitos casos de pre-contest, por exemplo. Por conseguinte, esse é um outro assunto…

Mas, falando especificamente do caso de lesões de mínimo, médio ou grande porte, essas sim, merecem uma atenção especial. Será mesmo que vale a pena treinar quando está lesionado? Será que vale a pena emendar formas de treinar, simplesmente para atingir aquela sua obrigação daquele dia? Será que o treino pode ser tão eficaz quanto um treinamento quando se está em condições favoráveis ou será que isso pode agravar ainda mais a situação?

Ficar sem treinar não implica necessariamente na perca de algo, mas, muitas vezes é o melhor caminho a se seguir para, de fato não perder algo. Imaginemos, por exemplo, uma lesão no cotovelo a qual insistimos e insistimos sobre ela realizando treinamentos se quer adaptados… Será que a estabilidade, ou melhor, a instabilidade por conta dessa lesão, não pode trazer uma situação ainda pior? Será que essa situação não poderá ser incrementada com uma lesão ainda mais grave? Claro que sim! E aí sim você poderá REALMENTE PERDER ALGO, inclusive tendo de ABANDONAR os treinamentos.

Isso acontece porque, praticamente deixamos uma estrutura instável quando ela está lesionada. Além disso, essa estrutura, para não agravar ainda mais o que já foi machucado e, ao mesmo tempo a fim de não perder sua funcionalidade, a estrutura utilizará mecanismos de compensação. Esses podem ser a sobrecarga em outra região, a movimentação incorreta ou em angulações e graus não propícias (propícios) entre outras (outros).

Muitos insistem também em, pensar que adaptar o treinamento para treinar lesionado pode minimizar os malefícios. Por exemplo: Outro dia, em um ginásio pequeno, vi um indivíduo com o dedo da mão TRINCADO treinando com o dedo empinado e realizando mais sessões semanais de perna visto que aparentemente, as pernas, não utilizariam os dedos. Mas, como o alertei, ele esquecera que, para se segurar nos equipamentos, ou para colocar peso nos mesmos, utilizamos as mãos. Além disso, corremos o risco de uma queda, de um impacto ou algum acidente naquela região já machucada. Mas, obviamente ele, apesar de concordar comigo, foi lá e continuou seu treino, mostrando que, o ceticismo ainda é um grande problema presente entre os praticantes de musculação.

Obviamente, alguns inteiramente mais intensos, tais como Dorian Yates chegaram a realizar treinamentos com apenas um lado do corpo enquanto o outro se recuperava de uma lesão. Mas, não podemos comparar um nível profissional daqueles com o nível da maioria de nós, meros mortais.

Lesões agudas X lesões crônicas

A pudéssemos jogar, em dois grandes baldes, os tipos de lesões, particularmente acho que esses poderiam ser os das lesões agudas e o das lesões crônicas, que, obviamente, são mais graves.

Convencido de que, lesões agudas são mais intensas, porém com maior facilidade de recuperação, as considero algo bastante interessante visto a normal resposta da maioria dos indivíduos, uma vez que, perante a dores muito fortes, a algum tipo de machucado sério ou algo do gênero, a impossibilitação do indivíduo realizar treinos é remota.

Porém, quando a lesão é crônica, ou seja, algo com relativa intensidade menor, porém, com uma durabilidade constante, o mesmo acaba por “acostumar-se” e então isso não passa mais a ser, propriamente dito, algo que o impeça de realizar seus treinamentos.

Portanto, é bastante interessante sempre darmos uma atenção aos nossos problemas crônicos para ver se eles não estão nos causando algum tipo de prejuízo.

Conclusão:

“Lesão” constitui-se como um dano ou uma anomalia presente em alguma estrutura do organismo, a qual pode ser causada por inúmeros fatores como metabólicos, físicos etc Esta, entretanto, é uma palavra tão sem especificidade que um leque de possibilidades são abertas perante seu existir, nos fazendo adquirir uma forma de pensar se devemos ou não treinar frente a cada uma delas.

Desta forma, torna-se muito importante que conheçamos algumas delas e, principalmente as nossas, evitando o agravamento e, consequentemente uma possível não só queda nos treinamentos, mas uma interrupção por um tempo mais elevado.

Portanto, procure sempre mais a respeito e, principalmente, deixe o ceticismo e o achismo de lado. Muitas vezes, ou, pelo menos na maioria delas, não há nada que não venha se resolver com um bom descanso e uma boa recuperação, seja de qual tecido for.

Portanto, conclui-se que NÃO se deve treinar lesionado, frente a qual tipo de lesão for.

Bons treinos!

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