O Fisiculturismo é um esporte pelo qual eu tenho paixão e amo, tanto que é o esporte pelo qual eu escolher viver por ele, trabalhar por ele e crescer (não só em músculos) com ele. É um esporte que vem crescendo ano a ano no cenário mundial e cada vez mais traz fãs, adeptos, praticantes e atletas. E tudo isso se deve ao cenário atual, onde o Fisiculturismo trouxe as marcas de suplementos e seus eventos para todo o mundo.
Pareceria muito fácil dizer que o fisiculturismo atual é um esporte lindo e maravilhoso sem defeitos e onde o melhor vence, onde só trouxe melhorias ao esporte. Seria lindo dizer que todos se esforçam de maneiras iguais e conseguem resultados os quais são pautados em persistência naquilo que acreditam. Muito bonito pensarmos que todos são amigos e que a rivalidade só se encontra dentro dos campeonatos, algo próximo ao que existia com Arnold e Franco Columbo no passado, mesmo ambos sendo de categorias diferentes, onde fora dos palcos, eles eram amigos e treinavam juntos.
Porém, nem tudo é esse mar de rosas que a maioria dos leigos costumam acreditar. Ele possui bastidores os quais podem ser controversos ou tristes de serem mencionados. Por trás de todo aquele espetáculo, todo aquele show, fora e dentro dos palcos, existem coisas as quais você precisa saber. Coisas essas que talvez doam a quem não saiba, e doam ainda mais a quem sabe, mas tenta ocultá-las. É necessário conhecer alguns fatores os quais fazem tudo parecer uma “mera mentira”.
E não, este não é um artigo o qual quer fazer com que você desacredite seus sonhos ou perca a admiração pelo fisiculturismo, mas mais do que isso, este é um artigo que tem como intuito fazer você pensar nas coisas que talvez possa estar fazendo (sem saber) de maneira errada e que estão contribuindo para essa parte obscura do espetáculo. Então, que tal abrirmos nossa mente e refletirmos sobre alguns pontos importantes?
Indice / Sumário
O fisiculturismo: Um jogo de interesses e marketing irreal
O marketing, de uma forma ou de outra, sempre esteve com o ser humano. Até os homens das cavernas, que, para conquistar mulheres, mostravam virilidade. Veja os homens do feudalismo, que batalhavam para alcançar algum objetivo e para “provar que eram melhores”. Olhe atualmente, as inúmeras propagandas de produtos, de pessoas, de serviços… Olhe para si mesmo e veja que você mesmo sempre tenta provar algo ou mostrar que é capaz de algo.
Sim, o marketing, os interesses e a “venda” sempre estiverem no meio do homem, mas é óbvio que quanto mais se passou o tempo, e mais se passa o tempo, esse marketing tende a aumentar.
Verdade seja dita que o fisiculturismo apesar de ter nascido por paixão, tinha seus quesitos de marketing. Sigmund, Joe Weider, Hoffman... Todos tinham seu marketing pessoal de alguma forma. Mais para frente, o próprio Arnold era o marketing em pessoa (sem tirar quaisquer méritos de nenhum deles, é claro!).
Logo, o fisiculturismo sempre esteve sim envolvido com o marketing (como tudo) e isso é inegável. Entretanto, há uma diferenciação entre um marketing honesto e singelo e algo que gira em torno de marketing. Na realidade, hoje posso afirmar que o fisiculturismo nada mais é do que um jogo de interesses. Se no passado existia marketing, existia também paixão pelo que se fazia. Hoje, se faz por obrigação, por “trabalho” e, muitas vezes, por ganância.
O fisiculturismo cada vez mais se tornou uma realidade mergulhada em vendas, no comércio e no jogo de interesses.
Hoje um atleta para ser reconhecido tem de ter mais do que classificações e um bom shape, mas precisa ter uma linha de marketing que chame atenção das pessoas, que uma marca invista para que ele faça sucesso e deslumbre do que poucos irão conseguir. O atleta hoje é visto como um manequim que deve atender ao que “os outros querem ver”. Hoje o que for contrário ao que os outros querem ver, está fora! E não é a toa que o fisiculturismo feminino foi tirado do maior campeonato de fisiculturismo do mundo, o Mr. Olympia.
Mais do que um esporte, hoje o fisiculturismo se tornou um jogo de interesse onde empresários lucram, onde atletas são mergulhados em um caminho perigoso e, muitas vezes, com sérias consequências e com adeptos os quais não percebem isso e dão todo o IBOPE necessário para que esse ciclo vicioso continue.
Marketing acima das qualificações
Hoje, para você ser um atleta, você não precisa subir nos palcos, não precisa demonstrar um shape ideal nem nada do tipo. Você precisa demonstrar que consegue atrair pessoas, ou seja, se você é uma pessoa que tem muitos seguidores no Instagram e faz umas “malhaçõezinhas” com umas “receitas fitness” e posta lá, você já pode ser chamado de atleta…
Mas, será que estamos falando realmente da qualificação dessas pessoas ou de seu mero tipo físico? Pergunto isso, pois não tenho absolutamente nada contra pessoas que trabalham com o marketing e até acho que elas têm seus méritos. Mas, daí ser chamado de atleta, é mergulhar tudo em um mesmo balde.
Incontestavelmente, o marketing hoje valoriza mais quem “tem” do que “quem é”. Sendo assim, essas pessoas que são mais valorizadas conseguem maiores resultados do que outras. É óbvio, o investimento hoje pode sim ser considerado um dos fatores essenciais no fisiculturismo. Você pode ter um bom shape, você pode ser esforçado, mas sem um bom investimento, fica difícil competir com essas máquinas que estão sendo criadas nos dias de hoje.
Muitos têm um belo sonho de que com seu esforço irão chegar lá… Sim, eles irão chegar longe, mas, apesar de ser triste dizer, eles não atingirão o topo sem os investimentos necessários.
E é claro que para que esse investimento ocorra, tem de haver retorno para quem está investindo e é justamente por isso que hoje se usa “o que os outros querem ver” do que “o que realmente é”. E é justamente por isso que não podemos criticar por completo empresas e empresários, afinal estamos mergulhados em um jogo de negócios.
Se o indivíduo, por mais bom que seja no esporte, não atrai pessoas, não há porque investir nele, visto que não se terá retorno. Ainda mais se tratando do investimento no bodybuilding, que é alto, este retorno necessariamente tem de existir.
As máscaras por trás da realidade
Frente a necessidade do marketing, hoje um “atleta” não pode somente ser visto como “atleta”. A realidade é que ele é visto como uma pessoa, um formador de opiniões e um exemplo. E ele tem de passar aquilo aos seus seguidores. De uma maneira geral, ele tem que se mostrar motivado o tempo todo, tem de dizer que os produtos que usa funcionam, tem de mostrar algo que eles “supostamente comem”… Tem de mostrar que são “surreais”, com frequentes refeições do lixo sem nunca engordar e assim por diante.
A realidade, é que tudo isso é muito diferente do que acontece na vida real. Grande parte dessas pessoas não estão motivadas o tempo todo, grande parte delas não faz essas refeições épicas de lixo, tem neuras em engordar e assim por diante. Normalmente, quanto mais uma pessoa tenta mostrar algo, menos ela é aquilo na vida real.
Além disso, essas aparências têm de soar relativamente atrativas. Para uns, essa atração se dá quando há identidade, para outros quando choca. Por exemplo: Várias meninas se inspiram em musas achando que com a dieta do iogurte grego com chia irão ter resultados. E assim a fazem. Outros, se identificam com aqueles caras que ficam fazendo apologia a drogas anabólicas… E segue o barco…
O importante é que possa ser passado a um grupo de seguidores que de alguma forma compactuem com aquela idéia. Se a pessoa, simplesmente, mostra a realidade, muitas vezes aquilo não pode ser atrativo. Quer um exemplo? Observe uma pessoa que posta algo interessantíssimo sobre um composto manipulado o qual tem efeitos ergogênicos, mas a longo prazo e difícil de ser realidade. Por outro lado, observe outra que posta algo aparentemente milagroso, mas fácil de ser feito. Quem atrairá mais pessoas? Óbvio que o segundo caso… Isso porque, as pessoas estão cada vez mais sedentas por algo rápido, que prometa milagres… Elas não querem mais saber se, fazer dieta, por exemplo, é o que de fato trará resultados… Elas querem saber quais substâncias usar para não ter de fazer dieta com tanta intensidade…
A completa inversão de valores faz com que a mídia tenha uma tendência a divulgar irrealidades e é justamente essa irrealidade é que são criados personagens os quais, boa parte, são simplesmente vendidos.
Pessoas se transformam em máquinas
Cada vez mais, o humano deixa de ser humano e passa a ser uma completa máquina. Isso quer dizer que eles não são vistos como um todo, mas são vistos como formas de gerar atração. E eles mesmos se enxergam assim, sem valorizar a si próprios.
Falam muitas vezes coisas que não querem falar, falam coisas sem pensar e fazem coisas as quais desconsideram as consequências. A tortura parece ser algo prazeroso para maioria. Afinal, parece mais fácil viver uma vida fácil de aparências do que uma vida difícil, mas com a verdade expressa em si mesmo.
Não, não quero contestar o que cada um faz com a sua vida ou o que irão decidir para si mesmos, mas quero contestar o que nós estamos fazendo dando audiência para essa cena.
Não, não estou dizendo que não devemos seguir aquilo com o qual nos identificamos, mas temos de ter bom senso para saber até que ponto aquilo é real e até que ponto aquilo é aplicável a nós.
É muito triste ver um menino de 15 ou 16 anos se inspirando em uma pessoa de 25 ou 30 anos bem sucedida no esporte e querendo ser igual ele… A imagem (falsa) que é passada é que ele irá conseguir chegar lá caso se dedique bastante, seja esforçado, faça a dieta direito e etc… Mas, como mencionado, isso é uma irrealidade e me preocupa a decepção daquele novato quando ver que as coisas não são tão fáceis assim e que nem tudo e um mar de rosas como pareceria ser. Essa decepção o fará simplesmente desistir de tudo ou optar para caminhos “sujos”.
Em resumo…
O fisiculturismo talvez ainda exista, mas sua essência está pouco a pouco morrendo. As pessoas estão valorizando coisas as quais prezam por uma mera aparência e esquecem de ver que por trás disso há seres humanos (com diversos interesses).
Deve partir de nós um critério sobre o que seria, ou não, válido seguir e acreditar, assim como a intensidade a qual se deve acreditar nestes fatos.
É necessário que possamos entender que, fundamentalmente, temos que prezar pela realidade. Temos de entender que por trás de tudo, há bastidores os quais muitas vezes desconhecemos.
Sendo assim, sempre busque fontes de informação as quais possam acrescentar algo a você e fuja da superficialidade que a maioria tenta te trazer. Lembre-se de que tudo que parece fácil demais, pode te levar para um caminho desconhecido o qual você talvez não gostaria de ir.
Bons treinos!