O bodybuilding é um dos esportes mais antigos da ginastica e foi por meio dele que se ramificou muitos dos esportes que envolvem o levantamento de peso. Porém, apesar de ser um esporte antigo, é também um dos esportes mais mal vistos por muitos e pela mídia em geral. Mas o problema é ainda um pouco maior, pois é um esporte onde o próprio atleta costuma falar algumas besteiras e acaba por deteriorar o próprio esporte. Besteiras como: falar mal de outros atletas nas redes sociais, defender a entrada gratuita dos torcedores em eventos, falar abertamente de bastidores do esporte e etc.

Muitos desses acabam por denegrir o esporte sem nem perceber que estão fazendo isso. De maneira ousada e tola, deixam princípios de lado e acabam colocando em jogo toda a beneficência que é gerada pela musculação e pelo fisiculturismo. Mas, porque isso costuma ocorrer? O que leva essas pessoas a isso? O que as faz ter atitudes dessa natureza? Muitas são as respostas, mas neste artigo trabalharemos com alguns dos principais pontos, que talvez sejam a chave para esse desencadeamento.
O Bodybuilding é um esporte solitário
Tênis de mesa, algumas modalidades da natação, pôquer, jiu-jitsu, algumas modalidades de ciclismo entre outras tantas: Esses são só poucos dos muitos exemplos de modalidades as quais são praticadas por um único indivíduo, ou seja, individualmente contra o seu oponente. É difícil precisar ao certo o quão singular deve ser o trabalho de cada um desses indivíduos, mas é imensurável a singularidade que existe em uma modalidade que é o fisiculturismo. Singularidade essa que passa do local de treino e também de competição, para sua vida como um todo.
Diferente de outras modalidades, o bodybuilding também é um estilo de vida, o qual se vive 24h por dia, afinal, não só no momento do treino estaremos em construção de nossos objetivos, mas o tempo todo, através da alimentação, da hidratação, do descanso, das escolhas, da abstenção de itens como o álcool (mesmo que em pequenas quantidades), alguns alimentos, tabaco, entre outros. De maneira “exigente”, a musculação requer de uma pessoa seu esforço também “fora da linha de jogo”. Do contrário, nenhum esforço dentro do ginásio terá sido realmente válido.

Isso reflete diretamente no estilo de vida que se deva levar, com uma disciplina ímpar e com o desentendimento de grande parte da sociedade, o qual faz com que isso se resulte na necessidade de solidão, pelo menos parcial, a fim de não causar transtornos a terceiros. Passa a sua vida então a ser difícil em aspectos de relacionamentos, de convívios, de algumas amizades, de socialização e assim por diante.
Diante desse isolamento parcial (muitas vezes total), o bodybuilding acaba sendo “individualista”. Por mais que se tenha um parceiro de treino, um companheiro de esporte ou algo assim, você estará por si só. Mesmo que tenha um treinador, ele poderá te mostrar os caminhos, mas só você poderá escolher como segui-los.
A musculação também é uma arte
Muitas vezes, indivíduos pagam fortunas para assistir jogos de futebol, ou ainda, pagam fortunas por uma final na NBA. Muitas brigam por ingressos de MMA e outros, ainda se digladiam para assistir uma partida de voleibol. Obviamente, esses são esportes emocionantes os quais, mesmo para quem não gosta, acabam atraindo certa atenção, o que e bom, pois, o esporte é o ESPORTE, e merece valorização.
Porém, a musculação parece não ser vista como uma modalidade esportiva, mas, apenas uma ferramenta. Talvez por sua inserção na idade contemporânea com finalidades normalmente e primordialmente estéticas, as pessoas a buscam a fim de melhorar suas capacidades físicas e psicológicas, como se busca um ortopedista e um psicólogo, para cada fim também. Esquecem, que, na verdade, essa é só uma vertente a mais do que ela pode demonstrar, mas, em sua raiz, é uma modalidade esportiva.
Isso faz com que ocorra uma direta e constante desvalorização da mesma: Não é a toa que vemos pessoas que reclamam em paga 30 reais (o que já é um preço ridículo) para assistir um evento de bodybuilding que dure O DIA TODO. Muitas vezes, se quer vão por acharem que a entrada deveria ser franca. No entanto, pouco se preocupam com uma festa de três ou quatro horas que curte R$300,00, fora o consumo local.
Ora, quando entramos em um museu ou vamos a um concerto musical ou uma peça teatral, estamos indo por alguns principais motivos: O primeiro deles é o nosso lazer, o segundo é pela admiração que há pelo ou pelos artistas em questão, a valorização do trabalho do próximo entre outros. Isso é ótimo e, um artista tem de ser reconhecido devidamente. O dinheiro então, apesar de ser muito “comido” pelos organizadores, patrocinadores e outros, é repassado em grande escala para o artista. Mesmo quando não é em grande escala, ele acaba recendo algo, o que lhe é de direito, claro.
Mas, quando vamos a um show de bodybuilding… O que ocorre? As pessoas não veem o bodybuilder que, na verdade é o real show como uma arte, um show, mas, como uma “presença”. Para agravar ainda mais o processo, boa parte da indústria suja que cerca o bodybuilding, incluindo empresas de suplementos alimentares, de equipamentos de academias, de roupas entre outras tantas, fora as de marketing e outros ramos, costumam fazer dos atletas meros chamarizes e “escravos de marketing”, deixando de lhe repassar o que é devido.
Vejam que clássico: Em um evento organizado onde são convidadas 10 bandas para tocar, vendem-se os ingressos e o dinheiro é repassado aos patrocinadores e organizadores do evento. Porém, anteriormente, as bandas já tem contratos fechados e valor de recebimento estabelecido por seus shows. No caso do bodybuilder, além dos não vitoriosos não receberem ABSOLUTAMENTE NADA NO BRASIL, ainda contamos com o fator de que muitos deles gastaram pesado para estar ali. Investiram tempo, dinheiro e até mesmo, muitas vezes, a saúde. Só seu esforço já seria merecedor de uma boa recompensa. A realidade é que a indústria tem cada vez mais explorado e não ajudado, como assim deveria ser.
Parece que tudo que se diz respeito ao fisiculturismo é tido como supérfluo. Na realidade, um bodybuilder é tão artista quanto um jogador de futebol, é tão importante quanto o guitarrista de uma banda de rock ou mesmo quanto os quadros de um pintor em um museu de obras de arte. Então, por que não valorizá-lo?
A imagem do bodybuilder

É triste ver como a imagem do bodybuilder no Brasil também não é lá das melhores. Esses tempos atrás, estava eu prestigiando a segunda fase do Brasileiro de Fisiculturismo da IFBB. Pois bem, no local do evento, na entrada, que era dentro de um shopping center, um senhor que não sabia bem o que era aquilo tudo, perguntava para o segurança se aquilo era o tal campeonato de fisiculturismo, “daqueles caras que tomam um monte de drogas e ficam fortes”… Ora essa! Que as drogas existem no esporte é inquestionável, mas resumi-lo a isso é a visão que muitos tem. Visão essa que se enche ainda mais quando observamos as atitudes dos próprios “bodybuilders”. Observe algumas redes sociais de “atletas” (normalmente adolescentes revoltados) os quais se julgam “bodybuilders” e, na realidade, estão somente fazendo apologias ao uso de drogas, com relatos ridículos e falsos, com idéias de que “o esporte é droga” entre outras babaquices. Pelo sim ou pelo não, digamos que os protocolos revelados por eles ainda sejam reais, podemos considera-los burros, afinal, nenhum bom praticante de quaisquer modalidades, entrega o segredo de seu sucesso, não é mesmo? O que faz então um “bodybuilder” entregar o seu, sabendo da altíssima luta que há entre os praticantes e a dificuldade que é atingir algo…
Mas, parece que perdemos a valorização pelo esporte por nós mesmos e preferimos um marketing e uma autoafirmação sem quaisquer fundamentos lógicos.
Se realmente queremos que o esporte seja valorizado, então, cabe-nos começar a valorizá-lo. Do contrário, o que poderíamos esperar? Absolutamente nada, é claro…
Conclusão:
O mundo do bodybuilder é algo que muitas vezes traz realidades as quais são deprimentes. Entre elas, podemos citar a desvalorização do esporte por conta de terceiros (como pessoas que não conhecem o esporte), por indivíduos relacionados ao marketing do fisiculturismo (marcas, empresas, patrocinadores etc) e, pelos próprios praticantes do esporte, os quais se deixam levar por uma fama barata e sem qualquer tipo de ética.
Portanto, é fundamental que, se queremos o desenvolvimento de nosso amado esporte, possamos pouco a pouco ir mudando esses fatores e levando a realidade bonita que há dentro do esporte, afim de torna-lo cada vez mais popular.
Pensem nisso!